A importância do sistema HACCP na cadeia de alimentação global

Autora:
Ana Pereira Mendes
Food, Labelling & Nutrition Coordinator da SGS Portugal

Tendo em conta a globalização e a complexidade crescente das cadeias de abastecimento, a implementação de um sistema HACCP torna-se essencial para garantir a segurança alimentar.

Os alimentos estão hoje mais acessíveis e diversificados do que nunca, resultado de um mundo cada vez mais interligado, que faz com os produtos que consumimos possam ser provenientes de diferentes pontos do mundo, transportados ao longo de grandes distâncias, independentemente de quaisquer fronteiras sazonais ou geográficas. Um desenvolvimento que mudou a face do setor alimentar e aumentou a complexidade da cadeia de abastecimento, fazendo-se ainda acompanhar por uma maior exigência de medidas que garantam a segurança e qualidade daquilo que consumimos. Um contexto em que o HACCP (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controlo) adquire um papel essencial.

Os riscos na segurança alimentar: uma realidade global

Não faltam exemplos de situações complicadas, que confirmam que há ainda muito a fazer quando se trata da mitigação do risco na cadeia de abastecimento global. A começar pelos riscos de contaminação que, mesmo quando ocorrem apenas numa parte do mundo, têm o potencial de afetar rapidamente os consumidores globalmente, criando crises de saúde e perda de confiança, além do impacto financeiro para as empresas.

Há ainda a assinalar as regulamentações, que podem ser diferentes em cada país, daqui resultando lacunas na aplicação da legislação que dificultam o seu cumprimento por parte das empresas. Lacunas estas ao nível da rastreabilidade, ameaças emergentes (como as alterações climáticas e as pandemias), riscos biológicos (como a Salmonella e a Listeria) e contaminação química (como os pesticidas e as toxinas) ou ainda a fraude alimentar, com produtos intencionalmente deturpados para gerar lucro, à custa da saúde do consumidor. 

O papel do HACCP na cadeia de abastecimento global

A segurança alimentar na cadeia de abastecimento exige, que se tenham em atenção diversos processos e salvaguardas, que passam por todas as fases do processo, desde a produção até ao armazenamento, transporte e venda, processos a que a globalização veio adicionar desafios únicos. Não só a globalização, mas também as exigências ao nível da procura por parte dos consumidores, os avanços tecnológicos e as variações nos padrões de segurança alimentar e nos procedimentos de inspeção entre países.

Tendo por base a ciência, a implementação de um sistema HACCP ajuda as empresas alimentares a identificarem e controlarem potenciais perigos que possam pôr em causa a segurança alimentar e fá-lo de uma forma proativa, ou seja, antecipando esses perigos, através da implementação de medidas de controlo. No que diz respeito à cadeia de abastecimento, isto vai permitir uma otimização dos processos, redução do desperdício e garantia de conformidade com os requisitos regulamentares, enquanto se define uma cultura de melhoria contínua.

Vai permitir ainda padrões de segurança alimentar mais robustos que, por sua vez, contribuem para a segurança alimentar, a prosperidade económica e a estabilidade do mercado.

O que acontece no contexto do fornecimento global é que se assiste a uma exposição a diferentes níveis institucionais de controlo de qualidade, o que aumenta a vulnerabilidade das cadeias de abastecimento alimentar. Tendo isto em consideração, as práticas proativas e reativas, como políticas, regulamentos e processos de controlo, tornam-se ferramentas muito usadas para a redução do risco.

Colaboração e inovação para um futuro alimentar seguro

Diante de tantos desafios e variáveis, o compromisso com o HACCP torna-se imprescindível para proteger consumidores, garantir a qualidade dos produtos e fortalecer a confiança na indústria alimentar.

A colaboração entre empresas, entidades regulamentares e instituições científicas será determinante para assegurar uma cadeia de abastecimento cada vez mais segura, adaptável e preparada para mitigar o risco. Somente assim, poderemos responder às exigências de um mercado global interligado, garantindo que a segurança alimentar é uma prioridade inquestionável.