Compreender a qualidade do biogás e como a melhorar

Autora:
Mónica Neves
Chief Microbiologist, Global Biosciences Center, SGS Portugal

A produção e consumo de biogás tem vindo a aumentar na Europa. Descubra porque é essencial a sua qualidade para a eficiência, segurança e sustentabilidade.

O setor do biogás na Europa tem apresentado um crescimento consistente nos últimos anos. Em 2023, forneceu 22 mil milhões de metros cúbicos (bcm) de gás renovável ao mercado europeu, o equivalente a 7% do consumo de gás natural de toda a União Europeia (UE).

O setor tem também registado um compromisso em termos de investimento privado (estão previstos 27 mil milhões de euros para o setor do biogás até 2030), o que irá aumentar ainda mais o fornecimento. No entanto, este ritmo continua aquém do potencial da UE, pelo que a Associação Europeia de Biogás sugere a fixação de uma meta de 100 bcm até 2040, que se iria traduzir em ganhos importantes: evitaria mais de 483 milhões de toneladas de CO2 por ano, forneceria energia a mais de 90 milhões de lares europeus durante todo o ano e mais de 13,8 milhões de toneladas de fertilizante orgânico produzido internamente.

Não há dúvidas que o biogás está a ganhar força enquanto fonte de energia renovável capaz de transformar resíduos orgânicos em combustível. No entanto, nem todo o biogás é igual e a sua qualidade, que se define pela composição, pureza e pelo valor energético, é essencial quando se trata de medir a sua eficiência, segurança e adequação às mais diversas aplicações.

O que é o biogás?

O biogás é um recurso energético renovável produzido por microrganismos através da digestão anaeróbia de resíduos, sobretudo municipais, ago-pecuários e alimentares.

Trata-se de uma alternativa aos combustíveis fósseis que não só reduz as emissões de gases com efeito de estufa, como promove ainda a reciclagem e a eliminação sustentáveis de resíduos orgânicos.

Produzido através da digestão anaeróbica, ou seja, um processo em que os microrganismos decompõem a matéria orgânica na ausência de oxigénio, o biogás contém normalmente metano (50–70%), dióxido de carbono (30–50%) e gases como sulfureto de hidrogénio, vapor de água, azoto e outros.

Porque é que a qualidade importa?

A qualidade do biogás é importante por vários motivos:

• Eficiência energética - o biogás de alta qualidade contém uma maior percentagem de metano, que é a parte combustível. E mais metano traduz-se em mais energia por unidade de volume, sendo melhor para fins de aquecimento, geração de eletricidade ou combustível.
• Desempenho do equipamento - a presença de impurezas pode corroer motores, turbinas e tubagens, pelo que um biogás mais limpo significa menos manutenção, maior vida útil do equipamento e menos avarias.
• Segurança - as impurezas podem ainda tornar o biogás tóxico ou inflamável de formas imprevisíveis, pelo que uma maior qualidade vai assegurar um armazenamento, transporte e utilização mais seguros.
• Impacte ambiental - um biogás de baixa qualidade pode libertar poluentes quando queimado, como compostos de enxofre ou partículas. Se for purificado, vai reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e contribuir para um ar mais limpo.
• Valor económico - o biogás de alta qualidade pode ser transformado em biometano, que é comparável ao gás natural, e pode ser vendido ou injetado na rede de gás.

Da matéria-prima ao processo

São vários os elementos que contribuem para a melhoria da qualidade do biogás, a começar pela seleção das matérias-primas, que devem ser orgânicas consistentes e de alta energia, evitando o excesso de resíduos ricos em proteínas para limitar a formação de amónia.

Para a otimização do processo, há que ter em conta a temperatura a que ocorre o processo, carga orgânica, tempo de retenção, além de uma monitorização dos níveis de ácidos gordos voláteis, pH e amoníaco.

Ao garantir que o biogás cumpre os padrões de qualidade, é possível maximizar o rendimento energético, reduzir o impacto ambiental e cumprir as normas regulamentares.