Sustentabilidade, segurança energética e o desafio do equilíbrio

Autora:
Tânia Domingues
Sustainability and Energetic Transition Manager da SGS Portugal

A transição energética: um desafio sistémico de equilíbrio e resiliência

A transição para um sistema energético de baixo carbono impõe uma reconfiguração profunda das infraestruturas, dos modelos de negócio e das políticas públicas. Este processo exige um equilíbrio rigoroso entre três pilares fundamentais: segurança do abastecimento, acessibilidade económica e sustentabilidade ambiental.

A substituição progressiva dos combustíveis fósseis por fontes renováveis, intermitentes por natureza, levanta questões críticas:

• Como garantir a estabilidade da rede elétrica e a resiliência do sistema energético?
• Que mecanismos regulatórios e financeiros são necessários para viabilizar o investimento em armazenamento, redes inteligentes e flexibilidade da procura?
• De que forma podem os governos e as empresas alinhar os seus objetivos estratégicos com as metas climáticas, sem comprometer a competitividade e a coesão social?

Transição Energética: Uma Necessidade Estratégica para Governos e Empresas

A transição energética representa um imperativo global, não apenas no contexto da descarbonização, mas também na reconfiguração de sistemas interdependentes que sustentam a economia e a sociedade. Para os decisores políticos e empresariais, o desafio vai além da substituição de fontes fósseis por renováveis: trata-se de gerir uma transformação profunda em sistemas complexos que interligam energia, indústria, agricultura, transportes e infraestruturas urbanas.

Garantir que esta transição ocorra sem comprometer a segurança energética nem a acessibilidade é essencial. A falha em equilibrar estes fatores pode gerar impactos económicos, sociais e políticos significativos.

O Conselho Mundial da Energia define este desafio como um trilema energético, composto por três dimensões críticas:

Segurança Energética
Refere-se à capacidade de garantir um fornecimento contínuo e confiável de energia, mesmo em cenários de stress geopolítico ou climático. Exige investimentos robustos em infraestruturas resilientes, diversificação de fontes e gestão eficiente da procura.

Equidade energética
A energia deve ser economicamente acessível para todos os segmentos da população e setores produtivos. A política energética deve assegurar que o custo da transição não exclua comunidades vulneráveis nem comprometa a competitividade industrial.

Sustentabilidade
Implica reduzir as emissões de gases com efeito de estufa, promover a eficiência energética e adotar tecnologias limpas. A sustentabilidade energética está diretamente ligada à mitigação das alterações climáticas e à preservação dos ecossistemas.

A abordagem integrada e equilibrada destes três pilares é essencial para garantir que a transição energética seja não apenas tecnicamente viável, mas também socialmente justa e economicamente sustentável.

Portugal e o compromisso com a transição e segurança energética

O mais recente relatório do Trilema Mundial da Energia 2024, publicado pelo World Energy Council, olha para este tema e avalia os resultados nacionais, confirmando que, em Portugal, parece haver o que dizem ser um “forte compromisso com o equilíbrio das dimensões do Trilema Energético, com conquistas notáveis na sustentabilidade".

De acordo com o Plano Nacional de Energia e Clima de Portugal, as metas definidas incluem a produção de 85% de eletricidade a partir de fontes renováveis até 2030, o que pretende dar resposta à questão da sustentabilidade.

No que diz respeito à segurança energética, Portugal está a dar prioridade à diversificação da sua matriz energética renovável e a reduzir a dependência dos combustíveis fósseis importados, com investimentos crescentes na energia solar e eólica.

O papel das empresas no equilíbrio energético do futuro

Ainda que os governos possam estar na linha da frente na gestão deste ‘trilema’ energético, também as empresas têm de lidar com ele: vão necessitar de energia fiável, acessível e limpa para operar, o que se irá traduzir em melhorias ao nível da sua reputação e numa minimização dos riscos ambientais a longo prazo, assim como poupança de custos.

Mas para isso há que encontrar soluções energéticas que abordem eficazmente cada uma destas dimensões e o investimento na energia renovável parece ser a melhor opção. De facto, este tipo de energia não só permite acesso a uma energia fiável, mas também acessível e limpa, com os benefícios adicionais de uma melhoria na reputação e redução de custos a longo prazo.