Descubra como identificar e realizar o manejo dos principais nematoides que atacam a cultura da soja.
A cultura da soja favorece não só os brasileiros, mas o mundo. Grande parte da produção de grãos é destinada à exportação, sendo que somente em 2019 o Brasil alcançou a marca de US$ 35 bilhões ao exportar 97 milhões de toneladas do “complexo soja” (grão, farelo e óleo).
Como avaliação geral, os nematoides de plantas são responsáveis pela redução na produção agrícola mundial. Os nematoides pertencem a um grupo de animais vermiformes muito diversificado e são encontrados em praticamente todos os ambientes, tanto como parasitas quanto organismos de vida livre.
A dificuldade em ver os nematoides no campo, sendo algumas vezes até impossível, e devido aos sintomas serem, muitas vezes, não específicos, os estragos causados são, muitas vezes, atribuídos aos mais diversos fatores.
NEMATOIDES NA SOJA: CARACTERÍSTICAS GERAIS
Algumas espécies de nematoides têm como parte alvo de ataque na planta os caules, as folhas e as flores, sendo muito importantes para as culturas do alho, morango, arroz e crisântemo. Entretanto, as espécies que mais causam danos econômicos no Brasil são as que têm como alvos sistema radicular, tubérculos e bulbos, como pode ser observado no café, soja, milho, algodão, cana de açúcar, laranja, hortaliças, batata, entre outros.
Em relação à mobilidade na fase adulta, os que não se locomovem, tais como Meloidogyne, são classificados como sedentários e os adultos que possuem mobilidade no solo ou planta são denominados de migradores, como Pratylenchus.
Os danos causados pelos nematoides dependem de diversos fatores, tais como, densidade populacional, virulência da espécie e da tolerância/resistência da planta hospedeira. Outros fatores podem interferir também nesse processo, como clima, fertilidade do solo, textura do solo, disponibilidade de água e presença de pragas e doenças.
A partir do momento que os nematoides são identificados como contribuintes, de forma significativa, para a perda de produção das culturas, medidas de controle devem ser aplicadas. As medidas de controle dependem da espécie de nematoide responsável pelos estragos, da cultura e dos fatores locais.
QUAIS OS NEMATOIDES MAIS COMUNS NA SOJA
No Brasil, os gêneros de nematoides mais prejudiciais à cultura da soja têm sido o Meloidogyne (formador de galhas), o Heterodera (cistos), Pratylenchus (lesões radiculares) e o Rotylenculus (reniforme).
Meloidogyne (nematoide formador de galhas)
Em lavouras de soja no Brasil a ocorrência de M. javanica é generalizada, enquanto o M. incognita é comumente encontrado em lavouras com cultivos anteriores de com café ou algodão (SP, MG, PR, BA, MT, MS). As maiores perdas ocasionadas por esse gênero de nematoide são observadas em solos de textura arenosa.
Nas lavouras infestadas por nematoides de galhas, geralmente, os sintomas são observados como manchas em reboleiras, com plantas de menor porte e amareladas. Algumas vezes as folhas das plantas atacadas apresentam manchas cloróticas ou necroses internervais (folha “carijó”).
Em algumas situações o sintoma não é expresso por redução de tamanho da planta, mas por intenso abortamento de vagens e amadurecimento prematuro.
Os danos tendem a serem maiores em anos com ocorrência de veranicos na fase de enchimento de grãos. Em termos de raízes, o aparecimento de galhas nas plantas atacadas é variado em termos de número e tamanho das galhas. Essa variação é resultante da susceptibilidade da planta e nível de infestação do nematoide no solo.
Heterodera (nematoide dos cistos)
Os nematoides desse gênero são conhecidos como nematoides dos cistos. Duas espécies são identificadas no Brasil, sendo Heterodera ficii (parasita de figueira e sem grande expressão econômica) e Heterodera glycines (importante parasita da soja).
Os ovos no solo são protegidos de inimigos naturais e das intempéries pelos cistos e, em função disso, os ovos podem permanecer viáveis por mais de oito anos. Os juvenis saem dos cistos por uma cutícula mais fina e translúcida denominada fenestra. Esse nematoide de cisto penetra nas raízes e dificulta a absorção de água e nutrientes, o que acarreta planta com desenvolvimento prejudicado, porte reduzido e clorose na parte aérea e, devido a isso, a doença foi denominada “nanismo amarelo da soja”.
Os sintomas são mais facilmente encontrados em áreas próximas às estradas ou carreadores e apresenta-se na forma de reboleiras. Em situações de áreas que apresentam melhor fertilidade do solo e distribuição mais regular de chuva os sintomas podem não ser evidenciados na parte aérea.
Na planta atacada por esse nematoide o sistema radicular fica menos desenvolvido e apresenta, a partir dos 30-40 dias após a semeadura da cultura, minúsculas fêmeas do nematoide, as quais possuem coloração branca e formato de limão ligeiramente alongado.
Com o decorrer do tempo a coloração vai sendo alterada para amarelo, marrom claro e, posteriormente, a fêmea morre e se transforma em estrutura de coloração escura e dura, denominada cisto, que vai da raiz para o solo.
Rotylenchulus
Apesar do algodão ser a cultura mais afetada pelo Rotylenchulus reniformis, dependendo da cultivar e infestação no solo, a cultura da soja também pode sofrer danos. A importância desse nematoide tem aumentado na cultura da soja, em especial no Centro-Sul de Mato Grosso do Sul.
O R. reniformis é conhecido por “nematoide reniforme” em função da forma do corpo da fêmea (parte do corpo que fica externa à raiz apresenta forma semelhante a um rim) e pode causar danos à diversas culturas, tais como algodão, café e soja. As fêmeas são semiendoparasitas sedentárias e formam massa de ovos externamente às radicelas das plantas infestadas. Desses ovos originam juvenis que são móveis.
As lavouras de soja afetadas por esse nematoide diferem um pouco em relação aos sintomas causados por outros nematoides, uma vez que caracterizam-se pela desuniformidade notável, composta por plantas com desenvolvimento menor, sintomas semelhantes às áreas afetadas por deficiências nutricionais ou compactação e não há formação de reboleiras típicas. Esse nematoide não tem ocorrência predominante em função da textura do solo, aparecendo tanto em solos arenosos quanto em argilosos.
Pratylenchus (nematoide das lesões)
Essa espécie tem aumentando muito a incidência na soja, especialmente no Brasil Central, nas últimas safras. Esse nematoide teve benefícios com as mudanças no sistema de produção e incorporação de áreas de solos mais arenosos. No caso da cultura da soja, há incidência do P. brachyurus.
São conhecidos como nematoides das lesões radiculares, sendo endoparasitos migradores. Esse gênero tem os estádios juvenis e adultos vermiformes, os quais se movimentam intensamente para iniciar o parasitismo, sendo todas as fases infestantes. Os adultos e juvenis injetam toxinas na penetração nas radicelas e essas substâncias degradam as paredes celulares parcialmente.
Após essa fase, mecanicamente, rompem as paredes celulares para entrarem e movimentar-se entre e dentro das células, ocasionando o rompimento celular, que resultam em túneis e galerias nas raízes.
O nível de infestação desse nematoide é regido por diversos fatores, como a textura do solo. Uma observação interessante é que, em alguns casos, ocorrem reboleiras com plantas de menor porte, porém permanecendo com coloração verde. Já as raízes das plantas parasitadas mostram-se parcial ou totalmente escurecidas e isso ocorre devido ao ataque às células do parênquima cortical e injeção de toxinas, além da movimentação do nematoide na raiz, a qual desorganiza e destrói células.
Helicotylenchus
São conhecidos por nematoides espiralados, pois quando mortos pelo calor, assumem a forma tipicamente espiralada. Dentro desse gênero, as espécies mais importantes são a H. multicinctus, que ataca a cultura da banana, e a H. dihystera, a qual atinge várias culturas. São normalmente migradores ectoparasitos, mas em algumas culturas agem como endoparasitos, uma vez que penetram nas raízes.
São nematoides, no geral, causadores de danos secundários, pois acabam aproveitando das lesões causadas, por exemplo, por Pratylenchus e acarretam danos ao desenvolvimento vegetal.
ÉPOCA DE AMOSTRAGEM
O método de amostragem para essa identificação varia ligeiramente dependendo da cultura de interesse, mas em todas as culturas é importante salientar que os nematoides que causam danos em culturas agrícolas são parasitos obrigatórios, ou seja, precisam de raízes vivas para sobreviver e multiplicar.
Esse fitoparasitos não sobrevivem na ausência de plantas vivas e, em situação de raízes mortas, eles permanecem no solo no estádio de ovos, com o objetivo de resistir às situações adversas.
A amostragem em área que foi preparada, mas ainda não recebeu o cultivo, seria mais interessante do ponto de vista de caminhamento na área, mas traria menos informação, uma vez que a população de parasitos tende a ser muito baixa na falta da planta hospedeira, sendo os nematoides, nessa situação, encontrados na fase de ovos. Lembrando que os ovos são muito parecidos, o que impossibilidade a diferenciação entre as espécies de nematoides.
As populações de nematoides tem aumento considerável em condições de calor e umidade e, por esse motivo, a época mais adequada para amostragem é a chuvosa (primavera/verão). Lembrando que algumas culturas, como cana-de-açúcar e café, podem perder as raízes em camadas superficiais do solo nas épocas com mais restrição de chuva no ano.
Apesar da indicação de coleta em períodos chuvosos, deve-se evitar a operação em solo encharcado, uma vez que, nessas condições, as raízes coletadas entram em decomposição mais rapidamente.
O correto é, após uma chuva forte, esperar um período para que a umidade do solo fique próxima à capacidade de campo para, assim, efetuar a coleta, principalmente em solos de textura argilosa.
Em relação às culturas anuais, há preferência por coleta na época de florescimento da cultura, ocasião em que as raízes estão mais ativas e desenvolvidas e não começaram a senescência. Nesse período do florescimento há possibilidade de encontrar os maiores níveis de infestação, uma vez que a população de nematoides tende a ser mais elevada.
Um outro ponto importante a levar em consideração é a distribuição dos pontos de coleta na área, uma vez que a variabilidade espacial de populações de nematoides é bastante alta. Somente com a coleta em diversos pontos da área é possível alcançar a representatividade esperada.
Essa coleta de amostras para identificação de nematoides também pode ser orientada pelo uso de imagens de índice vegetativo da cultura, uma vez que a planta infestada tende a apresentar menor vigor vegetativo, podendo os pontos de coleta serem mais concentrados nessas áreas.
ARMAZENAMENTO DAS AMOSTRAS COLETADAS
As amostras, se coletadas no período correto e de maneira adequada, contém grande quantidade de raízes vivas, de preferências as raízes mais finas, e o solo levemente úmido.
No decorrer dessa coleta no campo, as amostras devem ser acondicionadas em sacos plásticos, identificadas e mantidas em caixas de isopor na sombra, a fim de evitar incidência de raios solares e calor excessivo, o que pode ocasionar a morte dos nematoides, inviabilizando as amostras para análise.
Após a coleta, as amostras devem ser enviadas o mais breve possível para o laboratório, podendo ser armazenadas por um curto período (no máximo cinco dias para culturas anuais, que possuem raízes mais finas). Para esse armazenamento das amostras é indicado local fresco (de preferência com ar condicionado) e sem incidência de luz direta.
As amostras que são mantidas em geladeira nesse período de armazenamento deterioram mais rapidamente ao saírem dessas condições, por isso não é o modo mais indicado de acondicionamento.
MEDIDAS DE CONTROLE DE NEMATOIDES
Alguns métodos de controle de nematoides citados na literatura, tais como, descargas elétricas, radiações ionizantes, inundação e, até alqueive, não são praticáveis atualmente em larga escala para grandes culturas de importância econômica. Nos dias atuais o controle tem sido realizado por meio da integração de diversos métodos, como rotação de culturas, variedades resistentes, adição de matéria orgânica e nematicidas biológicos e químicos.
Meloidogyne (nematoide formador de galhas)
No caso de identificação de Meloidogyne na área, as estratégias mais eficientes de controle são a rotação/sucessão com culturas más hospedeiras, como, por exemplo, o algodão (exceto para M. incognita), amendoim e milho resistente, além da utilização de cultivares de soja resistentes.
A rotação deve ser bem planejada, pois os nematoides de galhas são multiplicados pela maior parte das espécies cultivadas. A presença de plantas infestantes na área também pode aumentar a infestação, uma vez que elas possibilitam a sobrevivência do parasita.
No caso da adição de matéria orgânica ao sistema e aumento da atividade microbiana do solo, possibilitando o aumento da população de inimigos naturais desse nematoide, é interessante incluir na rotação adubos verdes resistentes, como Crotalaria spectabilis, C. mucronata, C. grantiana, C. paulinea, mucuna cinza, mucuna preta ou nabo forrageiro para M. incógnita e M. javanica.
Em áreas com alta infestação de M. javanica podem ser utilizados para rotação com a soja as culturas do milho, milheto e sorgo resistentes. Quando o caso for de M. incognita, a rotação pode ocorrer com amendoim ou milho, sorgo e milheto resistentes. A escolha da rotação adequada deve estar baseada na viabilidade técnica e econômica da cultura também, sendo bastante variável entre regiões.
A utilização de produtos químicos e biológicos também tem sido adotada e inserida no programa de manejo integrado de nematoides. As empresas têm investido cada vez mais em produtos para aplicação via tratamento de semente, o que reduz a utilização dos produtos e, consequentemente, os danos causados ao ambiente e facilita para o produtor na ocasião do plantio.
Heterodera glycines (nematoide dos cistos)
O cisto é a unidade mais eficiente de dispersão do nematoide, por sua leveza e resistência e isso permite a movimentação de uma área para outra, independente da distância, por meio de qualquer movimentação de solo. Pode ser disseminado por água (irrigação ou chuva), vento, implementos e máquinas agrícolas, homem e animais (selvagens ou domésticos).
Sementes de soja ou outras espécies vegetais de áreas infestadas também constituem meio de dispersão quando misturadas com cistos contidos em torrões de solo da área. Técnicas de prevenção, como uso de sementes livres de torrões de solo de áreas contaminadas e limpeza de implementos, máquinas agrícolas, veículos e até mesmo calçados pode reduzir a disseminação do patógeno.
A partir da identificação desse nematoide, o produtor terá de aprender a conviver com o patógeno, uma vez que sua erradicação é praticamente impossível. O uso combinado de cultivares resistentes e rotação com plantas não hospedeiras ajudam a reduzir as perdas causadas por esse nematoide. Esse planejamento de rotação é facilitado em função da limitada gama de hospedeiros desse nematoide.
Economicamente, a utilização de resistência genética é o melhor método de controle e, dessa maneira, de melhor aceitação pelo produtor. O uso de plantas antagonistas em áreas infestadas por esse nematoide pode ser uma opção viável, tais como Crotalária spectabilis e mucuna.
Para evitar a seleção de novas raças do nematoide, seria ideal que houvesse a rotação envolvendo cultura não hospedeira, cultivar susceptível e cultivar resistente, como por exemplo, milho – soja resistente – soja susceptível, fazendo com que a resistência da cultivar seja preservada.
A opção do manejo integrado com utilização de produtos químicos e biológicos também tem evoluído bastante e é uma opção para esse manejo integrado.
Rotylenchulus reniformis
Devem ser utilizadas técnicas de controle integradas para esse nematoide, começando pela interrupção dos mecanismos de dispersão do parasita, por meio da lavagem de equipamentos e máquinas agrícolas antes e após a utilização, procurar deixar para trabalhar por último nas áreas mais infestadas, juntamente com medidas culturais altamente eficientes, como neste caso, rotação/sucessão com culturas não hospedeiras e utilização de cultivares resistentes.
Esse patógeno é extremamente danoso para a cultura do algodão, com perdas econômicas consideráveis. As culturas do milho, arroz, amendoim e braquiária apresentam potencial de uso no programa de rotação de culturas. Em relação ao uso de resistência genética, normalmente, as principais fontes de resistência ao nematoide de cisto da soja também são aplicáveis ao R. reniformis.
Para cultivo de outono/inverno, em sistemas de semeadura direta, tem-se as opções de braquiária, nabo forrageiro, sorgo forrageiro, aveia preta, milheto e capim pé de galinha. Devido à persistência desse nematoide no solo e dependendo da densidade populacional, podem ser necessários, pelo menos, dois anos de cultivo com espécie não hospedeira.
Pratylenchus brachyurus
As medidas de controle utilizadas normalmente em áreas infestadas por nematoides na maioria das vezes não mostram-se tecnicamente eficazes ou economicamente viáveis para a situação do P. brachyurus, o que pode restringir as alternativas. No momento não se dispõe de variedades de soja altamente resistentes a esse nematoide, deixando de ser o manejo varietal a opção ideal neste caso.
A rotação de culturas, alternando plantios de soja com culturas de verão e inverno que sejam resistentes a esse nematoide também é uma medida de manejo, com objetivo de reduzir a população a níveis toleráveis. A busca por plantas nas quais a multiplicação desse nematoide não ocorre ou tem taxa de reprodução baixa é dificultada, uma vez que a lista de hospedeiros é extensa.
Deve ser considerada a utilização de produtos químicos e/ou biológicos no manejo integrado desse nematoide.
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